Capítulo VII
Situações em que o membro efectivo da Ordem dos Arquitectos vai para o céu.

Artigo 72
1. A ascensão ao céu apenas sucederá com membros efectivos da Ordem dos Arquitectos com a quotização em dia.
2. No caso de actuais ou anteriores membros da direcção da Ordem dos Arquitectos, a alínea anterior é ignorada.
3. Os arquitectos ditos "de nomeada", independentemente do seu grau de formação académica, ou reconhecimento nacional ou internacional, terão de obedecer à alínea 1.
4. Os arquitectos da "Santíssima Trindade" (cito Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto de Moura e Fernando Távora) estão isentos do cumprimento da alínea 1.

Não vejo o mundo em função dos valores, nem em função das pessoas. Nem sequer das religiões, dos países ou dos clubes de futebol. Nem mesmo das Clarinhas de Fão. Vejo o mundo segundo os telemóveis.

Sempre que me esqueço onde pus algo, o meu primeiro raciocínio é 'Vou dar-lhe um toque'. Isto aplica-se a relógios, cartões de crédito, molhos de chaves, pequenas crianças.

A minha paranóia não fica por aqui. Ontem reparei num casalinho, aqui nas conferências. A dada altura do dia vi a rapariga sozinha. O meu pensamento instantâneo foi 'Ui!? Será que o marido ficou sem bateria e ela o deixou a carregar?'

O Macário Correia é bastante soporífero, mas só isso. Não é diurético, por exemplo.

Uma conferência dum arquitecto português sem uma referência ao Siza é uma impossibilidade lógica.

Tenho medo da mulher sem queixo. Se ela não teve problemas em comer o seu próprio queixo, imagino o que não fará a um homem.

Os arquitectos sentam-se no chão quando não há cadeiras, e quando as há não se sabem sentar.

O mais difícil de encontrar será talvez o arquitecto um vício profundo em nicotina. Mas que os há, há...

P.S. Eu não conto, porque ainda não acabei o estágio, portanto não posso ainda ser considerado um arquitecto. Mas bastam apenas mais uns meses para ser obrigado, pelo Código Deontológico da Profissão, a fumar um maço por dia.

Os arquitectos não são uma raça distinta das outras. Mas são, no mínimo, uma sub-espécie rara. Parecem manequins da Springfield, com o mesmo ar alheado e sonhador. As arquitectas, essas, parecem ter esquecido toda a sua feminilidade numa qualquer prateleira da Springfield.

Como mais nenhuma profissão, os arquitectos pensam ser os “últimos originais” e os eternos “batalhadores da grande causa”. Mesmo quando se vestem são incrivelmente originais, optam todos pelo “estilo do arquitecto”. Não é betinho, não é junkie, é algo intermédio. Tem estilo, não é roto, pode ser de designer, mas não pode, nunca mas mesmo nunca, ser Paul&Shark, Sacoor Brothers, Tommy Hilfiger, ou Lacoste. Mas pode ser Springfield, Pull&Bear, Feira da Ladra, Do Pai. Talvez aqui seja o único ponto em que se cruzam as indumentárias. O betinho pode usar as roupas do pai ou do irmão mais velho. O arquitecto usa muita coisa, inclusive roupa da mamã, se se propiciar.

Existem os arquitectos limpinhos, barbinha feita e cabelo no sítio. Exsitem também os arquitectos maltrapilhos. Se virem a passar na rua um tipo com a barba grande mas com zonas enormes sem pêlos, o cabelo mal-cortado e com três tons diferentes, irritações cutâneas no pescoço e nos braços, o cigarro esquecido no canto da boca, mas que pareça que acabou de assaltar uma loja do Adolfo Dominguez, não se enganem. Não é um arrumador, é um arquitecto maltrapilho.

"Ou, como dizia o arquitecto da Casa da Música, Réme Cualhás,..."

24/09/04
O Manuel Salgado usa bleiser com botões de punho à comandante de transatlântico. Mas não usa gravata. Afinal de contas, é arquitecto.

25/09/04
A Helena Roseta usa roupa condizente com a sua idade e estatuto - casaco de linho, colar, cabelo de permanente - mas as calças não chegam ao calcanhar, ficam-se pela barriga da perna. Pequenas diferenças.

Devo ter acabado de fazer uma das coisas mais estúpidas da minha vida. Talvez esteja mesmo ao nível da vez que pus o gato na gaiola dos periquitos para ver o que ele fazia.

Parei o carro em frente à minha casa para tirar umas tralhas. Deixei tudo no passeio, puxei o carro atrás e fui estacioná-lo noutro sítio. Ao fazer a marcha-atrás pareceu-me ter passado sobre algo, mas preferi pensar que era só impressão minha.

Quando olhei para o meu saco de viagem vi que não estava enganado. Estava todo porco e um tanto amachucado.

Ainda não tive coragem de o abrir. E isto já foi há algumas horas.

Um ano de blogue! Biba!

Como se dirá coisas do gomes em catalão?

Ok, apaguei aquela merda. Quem manda, quem é?

"Os inventores e os génios, no início da sua carreira, quase sempre, e muitas vezes também no fim, sempre foram considerados na sociedade uns malucos e uns parvos."

No texto da rapariga do comboio, as duas últimas frases são terrivelmente lamechas. Ignorem-nas, por favor.

Depois de ver o Kurosawa, tudo me parece mau.

O coisas está para completar um ano de existência, no dia 18. Nessa altura estarei por Barcelona, já saberei o resultado do Futuro Sustentável, o meu futuro profissional estará (espero) um pouco mais esclarecido. Espero que seja uma data comemorável.

"The characters in my films try to live honestly and make the most of the lives they've been given. I believe you must live honestly and develop your abilities to the full. People who do this are the real heros."

Vou ver Kurosawa. Algum dia tinha de ser

Só postei esse último porque me pediram. Ainda não estou convencido que tenha sido boa ideia.

Deviam inventar uma frase boa para meter conversa. Está uma rapariga com o ar mais querido possível a olhar para mim desde que entrou no comboio. (Bem, antes de saber o que lhe dizer tenho de descobrir como chegar à beira dela.) Nem sei que lhe diga. ADORO O SEU CABELO, QUE CHAMPÔ USA?, A MENINA COSTUMA FAZER FÉRIAS NA ÉPOCA ALTA OU BAIXA? Merda, ela fuma. Era perfeita demais. Mas cruza a perna como os dinamarqueses. Adoro isso. A meiinha com o desenho é deliciosa. Ai, nem posso crer. Sentou-se um tipo entre mim e ela. Parei de escrever por uns momentos, pensei em ligar o computador, mas desisti da ideia. Escrevi-lhe um bilhete enquanto pensava nisto: HÁ MOMENTOS EM QUE O MEDO SE SOBREPÕE À VONTADE. ACHO QUE AS PESSOAS TÊM É MEDO DE SER FELIZES. 962557275 (O GAJO DO COMBOIO) (ESPERO PELA TUA RESPOSTA) Que coisa idiota. Aposto que ela todos os dias chega a casa e põe na parede os bilhetes parvos que lhe vão dando, e depois ri-se deles. Será SER FELIZES ou SEREM FELIZES? Espero ter acertado. Merda! Se não tenho coragem de falar com uma desconhecida, como vou ter coragem de lhe entregar o papel? ... Ela fica linda quando fita assim as coisas. Ai Ai Ai. Ela foi à casa de banho e eu pus-lhe o papel no saco. Porra, não consigo parar de tremer. E ela não pára de olhar para mim. Tenho de relaxar. Ok, agora ela mudou de sítio, foi mais para a frente e ficou de costas para mim. Não sei o que quer dizer, mas coisa boa não é.

Xi, como eu adoro as diferenças entre povos. Os quatro portugueses ao meu lado partilham uma garrafa de vinho, gesticulam e falam alto. Os dois escandinavos à minha frente cruzam a perna quando se sentam e vão à vez à janela.

Ambos os grupos olham para mim com ar desconfiado. Que escreverão eles sobre mim nos seus blogues?

Há falta de emprego mas trabalho ninguém os quer!

Eu vou!